Arquitetura

Eurocentrismo: Por que não estudamos sobre a Ásia na escola?

12 de fevereiro de 2020

Já ouviu falar de Eurocentrismo? Para aqueles que me acompanham lá no instagram (@salapopstudio) sabem que passei o mês de Dezembro do ano passado viajando pelo Sudeste Asiático numa imersão exploradora que considero a coisa mais importante que já ousei fazer na minha vida.

Me joguei sozinha do lado de lá com um mochilão na mão, me hospedando em albergues e conhecendo lugares, paisagens e pessoas tão incríveis que sinto uma saudade imensa só de lembrar.

Por onde andei…

Visitei a Tailândia, o Vietnã e o Camboja e a cada parada em cada monumento histórico de cidades como Hoi An e Siem Reap eu me perguntava: por que eu nunca ouvi falar sobre esse lugar antes? Por que estudei Arquitetura e passei 5 anos numa faculdade exaustiva e tudo que me foi ensinado foram os estilos europeus e suas consequências para as Américas?

Por que não conhecia a Arquitetura Khmer? Por que eu nunca tinha ouvido falar em pagodas e nas suas calhas e empenas cheias de detalhes? Por que eu não conhecia os templos wat e todos os seus entalhes dourados cheios de simbolismos? Por que consigo detalhar uma coluna dórica e não sei do que se trata uma escultura apsara?

Certa vez um aluno na disciplina de História da Arte me fez essa pergunta e eu não soube responder. Na hora improvisei: “esse assunto não está na ementa da disciplina”. Na verdade, mesmo que estivesse, eu não saberia nem por onde pesquisar para ensinar. Nenhum livro sobre História da Arte, da Arquitetura e do Design que conheço fala sobre a Ásia e o Oriente.

O fato é que somos escravos da nossa bolha ocidental. Não temos noção dos costumes, comidas, música e de tantas coisas riquíssimas que acontecem do outro lado do mundo: Ásia, Oriente Médio, África.

Consumimos loucamente os hits de Beyoncé, idolatramos Brad Pitt, amamos hamburguers da McDonalds, compramos na Adidas e é esse universo que para nós é internacional. É tudo que conhecemos como vindo de fora.

Qual o motivo?

eurocentrismo_asia

A princípio, não somos culpados, foi assim que fomos educados nas nossas escolas e faculdades, como se a Europa e os EUA fossem as referências de mundo que devemos aspirar.

Somos independentes, mas ao mesmo tempo ainda colonizados. O eurocentrismo, ou seja a cultura e a economia e a política de base européia e americana, ainda impera sobre nossas cabeças.

Da mesma forma, do lado de lá a recíproca é a mesma. Quando perguntava aos asiáticos o que eles sabiam do Brasil a resposta era: “Neymar”. Eles sofrem do mesmo mal que nós, o eurocentrismo impera por lá também. Igualmente não se libertaram do dominador e desconhecem o que se passa por aqui: na música, na comida, na arquitetura.

É ainda mais grave quando inserimos o continente africano no meio disso tudo! Quase 54% da população brasileira é formada por negros e o que conhecemos da África? Pelo menos a Ásia é um pouco mais longe daqui …

É por essas e outras que pérolas arquitetônicas de gosto duvidoso como a casa do cantor Gusttavo Lima viram símbolos de consumo para quem tem uma visão tão eurocêntrica de mundo.

Enfim, nos resta tentar desconstruir essa bolha ocidental buscando se informar um pouco mais sobre o outro lado do mundo que é tão rico e tão incrível, muito mais até do que o universo europeu (pelo menos pra mim foi…:).