Arquitetura Design

Design para a Terceira Idade: um caminho em aberto

2 de abril de 2021

Da solidão ao preço do aluguel, do custo de babás a pandemias. Quase 3 milhões de pessoas voltaram a morar com parentes só nos EUA, estimando-se que até 50% da residências hoje seja multigeracional com idosos e crianças convivendo juntos.

No Reino Unido, um quinto das pessoas de 25 a 34 anos agora vive com seus pais, de acordo com a The Resolution Foundation, enquanto a Pew Research calcula que 64 milhões de americanos atualmente residem em lares com várias gerações, jovens a terceira idade. É provável que esse número aumente, chegando a 41% dos possíveis compradores de casas só nos Estados Unidos.

Uma realidade brasileira

Em comunidades e periferias brasileiras é muito comum encontrar famílias vivendo no mesmo solo sob puxadinhos ou dividindo o mesmo recinto com diferentes gerações e isso tendem a ser tornar comum não só na periferia.

Um super desafio ainda mais em tempos de pandemia com o home-office o home-schooling. Os motivos são diversos: alta dos aluguéis, preço de babás e enfermeiros, solidão e divisão de tarefas.

Viver em tribos, como faziam nossos ancestrais e como ainda fazem algumas civilizações, tem ajudado muitas famílias mundo afora. E as soluções que se apresentam nesse contexto remetem ao nosso olhar brasileiro: puxadinhos e esquemas de expansão e retração de mobiliário tão comum em nossas comunidades carentes que são extremamos criativas.

A superabundância de residências unifamiliares significa que grande parte do estoque global de moradias é inadequada para tais evoluções demográficas. Além do mais, essas propriedades pré-existentes que podem acomodar famílias além do modelo de dois filhos e meio muitas vezes dependem da separação, em vez de integração, de gerações adicionais por meio do uso de anexos.

Um grande nome dos projetos multigeracionais e do design para a terceira idade,  o arquiteto Mathias Hollwich morou com sua avó durante muitos anos e começou a perceber que tudo à sua volta não era pensado para os idosos, apenas para os mais jovens. Pensando nisso, resolveu se especializar em terceira idade, criando pesquisas e projetos voltados para esse público que segundo o IBGE, até 2060 será mais de 25% da população brasileira.[

terceira idade

3D do edifício multigeracional Skyler  de Mathias Hollwich
Fonte: CityLab

Vivendas para a terceira idade

Os estudos de Mathias no seu livro “New Aging: Live Smarter Now to Live Better Forever” abordam não só edifícios como também espaços urbanos e interiores e até design de serviços, aplicativos e sistemas voltados para a terceira idade.  Hoje Mathias é convidado por instituições do mundo inteiro para falar sobre envelhecer com qualidade de vida dentro das cidades.

Hollwich propõe substituir asilos por opções de vida baseadas na comunidade, onde os cuidados médicos permanecem em segundo plano, mas estão prontamente disponíveis – um conceito que ele apelidou de “cuidados furtivos”.

New Aging: Live Smarter Now To Live Better Forever from Hollwich Kushner on Vimeo.

Esses cuidados mantém a sensação de estar em casa e garante que os cuidados que os ocupantes recebem não sejam do tipo tudo ou nada. Em vez disso, o cuidado pode ser adaptado às necessidades do indivíduo, garantindo que ele retenha sua saúde e independência.

As próprias casas também podem se transformar facilmente em postos temporários de saúde e hospitais. As dimensões do quarto são calibradas para caber em uma cama médica e outras áreas, como a cozinha, são projetadas para acomodar melhor uma pessoa em cadeira de rodas.

É especialmente importante projetar banheiros que sejam facilmente acessíveis. Se eles estiverem inacessíveis, as pessoas tendem a evitar o uso desse espaço. Isso pode agravar os problemas de saúde; as pessoas têm menos probabilidade de beber água suficiente ou de escovar os dentes.

Em se tratando do contexto de jovens, crianças e idosos morando juntos em casas e apartamentos multigeracionais, essas questões se tornam ainda mais complexas.

E a necessidade de profissionais afiados para atuar nesse nicho se torna fundamental num futuro onde os modos de morar vem se tornando cada vez mais dinâmicos.