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Por que o arquiteto não é valorizado como o médico?

17 de fevereiro de 2021

Todo ano milhares de jovens brasileiros prestam o Enem para realizar o sonho de entrar numa universidade. E todo ano é a mesma coisa: medicina é sempre o curso mais concorrido.

Dia desses perguntei para alguns vestibulandos do meu círculo social e que estavam fazendo Enem para medicina porque estavam escolhendo a profissão. Os motivos foram diversos: ganha bem, tem muito emprego, é uma profissão bonita…

Mas a raiz da escolha é muito clara em todas as respostas. Desde sempre no imaginário coletivo da sociedade a profissão de médico foi alçada a um status muito alto.

Nas novelas os médicos são ricos, respeitados e inteligentes. Desde sempre ouvimos as pessoas dizendo que médicos estudam muito e por isso ganham bem. De fato, os salários médicos são bem alto, bem diferente do salários de outras profissões.

Além disso, desde sempre as pessoas estão acostumadas em suas vidas as frequentarem consultórios médicos e hospitais. Quantas pessoas que você conhece já foi a um escritório de arquitetura?

E de repente todas as outras profissões parecem minoritárias. Quem disse que o arquiteto, ou o engenheiro, o desginer ou o economista não estudam? O curso de Arquitetura, por exemplo, tem a segunda maior carga horária de aula depois de medicina (e perde por uma diferença de poucas horas). Poucos sabem disso.

Quem passou por uma faculdade de Arquitetura sabe o esforço, estudo e estresse que são necessários e demandados para se formar. E por que os arquitetos não são valorizados como os médicos? Por que o salários, a importância e a procura é tão irrisória?

Visão Distorcida

Podemos elencar diversos fatores. O principal deles é a visão deturpada de que o arquiteto é um profissional que serve às elites construída ao longo dos séculos, quando a herança colonial criou no imaginário coletivo a imagem do arquiteto símbolo do status.

Muitas vezes quando conhecia alguém e dizia minha profissão ouvia o sonoro: “Que chique”. Por que chique? O que tem de chique na minha vida repleta de obras, cimento, rotina estendida além do expediente normal, noites viradas, boletos…

É preciso que os orgãos como o CAU, IAB e as próprias universidades criem campanhas e trabalhos coletivos para “limpar” essa imagem.

Mas o trabalho não é só deles! Os próprios arquitetos contribuem para isso. Quantos perfis você conhece no Instagram que mostram projetos e ambientes perfeitos sem defeitos, acabamentos impressionantes, rotinas de mostras de decoração? Provavelmente a grande maioria, com algumas exceções.

Não tem nada de errado nisso, mas não pode ser só isso.

Educação Básica

Por outro lado, o problema também vem da educação básica.

Se nas escolas, desde a primeira infância, fossem introduzidos na mesma intensidade que uma aula de biologia ou química, conceitos essenciais de arte, estética, moradia, cidades e bem-viver; formaríamos cidadãos cientes da importância de diferentes profissionais para a vida em sociedade.

Não adianta ser um gênio da matemática e não ter a noção básica de que o material que você escolhe para um móvel pode ser um grande poluente ou que uma cor usada em excesso pode te causar ansiedade e irritação.

E no final das contas isso também tem a ver com a medicina, afinal o espaço que você vive está 100% relacionado à saúde e qualidade de vida.

Quantas idas aos consultórios médicos seriam poupadas se as pessoas estivessem vivendo numa cidade que estimulasse o exercício e a saúde mental? E se morassem em espaços com a ventilação correta evitando umidade, mofo e alergias?

Enquanto esses assuntos não forem ensinados e discutidos nas escolas, o arquiteto será sempre um profissional desconhecido, segundo essa pesquisa do CAU, 86% dos brasileiros desconhecem a profissão. É um número inacreditável!

O caminho é longo, mas não impossível de ser trilhado. Precisamos unir nossas forças para mudar essa realidade e construir um futuro onde o arquiteto e o médico ganhem igualmente, sem diferenças, sem preconceitos, sem julgamentos.

Com respeito, acima de tudo, como deveria ter sido desde o começo.