Descolonizar. Talvez a palavra da moda para alguns, talvez um termo totalmente novo para outros. Primeiro vamos esclarecer que descolonizar é diferente de diversificar.
Diversidade significa trazer mais pessoas para a discussão (periferias, negros, indígenas, LGBTQ) já descolonizar significa mudar a maneira como pensamos, criamos, desenhamos e enxergamos o mundo a nossa volta.
Também é bom deixar claro a diferença entre colonizar e descolonizar. Colonização, nós brasileiros, conhecemos bastante: fomos colônia de Portugal por muito anos, falamos português por conta disso e comemos bacalhau com natas por conta disso também.
Já entender a palavra descolonizar é assimilar que a colonização envolveu muita exploração: culturas foram apagadas, líderes locais foram mortos, riquezas foram roubadas e memórias destruídas.
Como enxergamos o mundo
A maneira como fomos colonizados influenciou como enxergamos o mundo hoje. Por exemplo, tivemos como parâmetro das nossas construções o neoclássico e o neobarroco europeu na maioria das nossas cidades. Como seria o Brasil se os negros e índios pudessem opinar na formação das cidades e da sua arquitetura?
Já imaginou morar numa construção à base de madeira, palha e barro e não enxergar esse tipo de estrutura apenas como um design exótico-selvagem para um hotel conceito numa praia do Nordeste?

Posteriormente o modernismo ocupou um grande lugar nas nossas vidas: edifícios, utensílios, produtos de decoração, design de interiores e até nas roupas e manifestações artísticas.
Quando um pequeno grupo de pessoas decide o que é “bom” e apaga o resto da história, tudo que é diferente tende a ser taxado como exótico ou vernacular. A maneira como enxergamos o mundo hoje e como criamos nossas relações de gostos/vontades é totalmente fruto desse apagamento.
Por exemplo, a minha mãe, uma senhora de 70 anos, acha incrível todas as igrejas romanas e consequentemente, todas as igrejas brasileiras que também tem esse estilo. Quando mostrei a ela uma imagem de uma pagoda de Bangkok a reação foi: bonito, mas estranho.
Quando mostrei uma música criada com flautas de madeira por indígenas da tribo fulniô do estado de Pernambuco, a resposta dela foi ainda mais severa: “isso não é música”.
Sim, até o olhar dos nossos pais, mães e amigos que nunca estudaram design, arte ou arquitetura é influenciando pelo olhar colonizado.
O Processo de Desver
O grupo de pesquisa Decolonising Design que estuda sobre como ajudar as pessoas a se desapegarem do olhar eurocêntrico para observar suas raízes, afirma que descolonizar é reimaginar tudo além do sistema que vivemos: é fazer um peixe entender que ele está cercado de água.
Um dica do grupo é sempre se perguntar como pessoas de diferentes etnias vão se identificar com aquilo que você está criando. Já falamos um pouco disso aqui quando conversamos sobre Design Justice, a metodologia de criar design com reparações históricas e sociais.

É importante também se desapegar dos seus conceitos do que é belo e feio: você pode ter seus gostos pessoais (e dependendo da sua formação acadêmica provavelmente são eurocêntricos), mas as pessoas que vão usufruir do seu projeto talvez tenham um outro olhar.
Chame-as para conversar e entender como é o lugar, a história, a cultura e os gosto para quem e onde você está criando. Construa um processo coletivo de projeto.
Outra dica é entender a história do lugar em que você vive e fazer o seguinte exercício: se esse lugar não tivesse sido colonizado como ele seria de verdade? Como essas pessoas pensariam? Como seria sua arte?
Aprender sobre a história da colonização vai abrir seus olhos para entender como estruturas poderosas formaram nossa sociedade hoje e como eles ainda dominam nosso entendimento do que é design.