Arquitetura Carreira Inovação

Arquitetura não vai acabar, ela vai acabar como é hoje

10 de setembro de 2020

Revolução digital, indústria 4.0, robotização, automatização dos trabalhos… Muito se fala que as profissões estão mudando, carreiras vão acabar, alguns trabalhos deixarão de existir.

E como fica a arquitetura nessa onda? A profissão do arquiteto vai acabar? Eu acredito fortemente que a arquitetura não vai acabar. Ela vai acabar como é hoje.

Neste artigo da Universidade de Oxford de 2013 intitulado “How susceptible are jobs to computerisation” que elenca a chance de diversas profissões serem substituídas por uma máquina, Arquitetura aparece no número 78 numa lista de mais de 700 profissões (onde as últimas são as que mais tem chance de automação.

Ou seja, é claro que boa parte do trabalho do arquiteto será automatizado, já existem inclusive aplicativos que executam tarefas simples, como projetos de interiores básicos. Mas isso não vai acabar com a profissão, apenas ressignificá-la e eu acredito que para melhor.

Forma segue função?

Há 10 mil anos construímos na lógica industrial, empilhando tijolo e argamassa com bem falou Neri Oxman nessa palestra do TED.

Fomos ensinados a construir edifícios e cidades de forma racionalizada, em partes, sem pensar no todo. Até hoje essa lógica ainda é ensinada nas universidades. Mas a era não é mais industrial, é digital. E agora?

Já dizia Sullivan: “Forma segue Função”. E nessa lógica modernista e bem industrial nos limitamos a construir edifícios pouco conectados com o futuro das cidades. Arquitetura e construção civil hoje são responsáveis por 36% do uso de energia global e 39% da emissão de CO2, uma indústria extremamente destruidora e poluente.

Além disso, segundo essa matéria da CNN Style, apenas 1 de 50 edifícios construídos hoje no mundo são desenhados por arquitetos. Ou seja, a conta não fecha. Será que não precisamos mesmo de uma remodelação? Quem está ganhando com essa arquitetura?

Precisamos desenhar sistemas ao invés de desenhar edifícios. Precisamos de laboratórios de larga escala com pessoas reais fazendo parte dele. Estamos usando muito concreto e criando soluções absolutas, achando que entendemos o que vai acontecer no futuro.


Hubert Klumpner

Sinais de novos tempos

Pesquisas utilizando inteligência artificial para otimizar desenhos e plantas já estão sendo testadas em Harvard. Isso pode significar um alcance maior da arquitetura e um maior respeito com o meio ambiente.

Outras pesquisas da própria Neri Oxman e da italiana Caterina Sposato prometem usar biomateriais e impressão 3D para desenhar formas orgânicas que respiram, suam e se comportam como elementos da natureza e não ativos artificiais e poluentes como construímos hoje.

Empresas de código aberto já permitem que você faça download gratuito de mobiliários assinados e imprima a um custo acessível em fablabs na sua cidade.

“Ah, mas isso acabaria como várias indústrias e empregos não é?” Provavelmente sim. Mas não acredito em acabar e sim em remodelar.

Será que a visão aqui não é que essas indústrias operam em lógicas que não fazem mais nenhum sentido?

Dois Eixos

Eu acredito em dois eixos fortes: a arquitetura que vai continuar como é hoje (mas com algumas mudanças abruptas) e outra que vai mudar consideravelmente.

Se você quiser continuar operando como hoje o conselho que te dou é:

  • Crie um serviço diferente e inovador, não seja mais do mesmo
  • Escolha um nicho de mercado promissor e investigue sobre isso
  • Trabalhe a criatividade e o auto-conhecimento
  • Descubra suas habilidades e saiba como mixá-las com o que você faz hoje
  • Trabalhe a sua expressão e a construção de uma marca que se expanda além do projeto
  • Não coloque todos os ovos numa cesta só

Se você quiser se preparar para o que vem de novo por aí:

  • Estude sobre design biofílico e biomateriais
  • Vire um fera em projetos ficcionais para ambientes virtuais
  • Estude sobre anti-realidade
  • Aprenda a programar
  • Desenvolva habilidades em impressão 3d, inteligência artificial, robôtica e nanotecnologia
  • Pesquise sobre urbantechs e crowdfundings

Você não precisa concordar comigo nisso tudo, eu também tenho muitas dúvidas. Mas é certo que períodos de mudanças bruscas vem por aí.

E nesse período o melhor que podemos fazer é “Aprender a desaprender e reaprender a aprender”, como dizia Alvin Toffler.