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É tempo de criar uma nova Bauhaus?

8 de outubro de 2020

Um século atrás a Bauhaus juntou artistas e arquitetos como Paul Klee, Walter Gropius e Moholy-Nagy para desafiar os modos e estilos tradicionais de criar através de métodos e desenhos modernistas que se espalharam pelo mundo inteiro.

Agora a Comissão Européia pensa em recriar a escola baseada num ideal comum: eficiência energética e design sustentável.

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A Nova Bauhaus

Para a nova Bauhaus foram reservados 1.8 trilhão de euros, parte de um acordo entre países europeus para combater o corona vírus e ao mesmo tempo tornar a Europa o primeiro continente com zero emissões de carbono até 2050.

Nós já falamos nesse artigo aqui como a arquitetura, engenharia e a construção civil são responsáveis por mais de 39% das emissões de gases na atmosfera.

A intenção é mixar design e sustentabilidade através do trabalho de professores, arquitetos, designers e engenheiros cocriando juntos novos materiais, produtos, processos e métodos construtivos e estéticos menos agressivos e poluentes.

O ideal é que as cocriações possam ser adotadas por vários países, num modelo parecido com a primeira Bauhaus que inspirou inúmeras escolas mundo afora através do design funcionalista, da interdisciplinaridade e da industrialização, tornando o design mais acessível para todos.

Cem anos iguais

A arquitetura funcionalista e racionalista da Bauhaus tem sido adotada na maioria das escolas do mundo há mais de 100 anos sem grandes inovações e mudanças nos processos.

O fato é que construímos exatamente da mesma maneira há um século, adotando parâmetros industriais num mundo que já é digital.

Dependendo da região do mundo e do acesso financeiro a tecnologias e novos materiais, diferentes métodos podem ser utilizados, mas na prática a forma de construir é basicamente a mesma.

Então, de fato é hora de repensar e começar a se fazer perguntas:

  • Os materiais usados hoje ainda são relevantes?
  • Que outros processos construtivos e novas tecnologias podem ser incorporadas?
  • Como a intersecção de áreas pode ser relevante para pensar em novos problemas?
  • Como zerar as emissões de gás carbono?
  • Como resolver os problemas de auto-construção?
  • Como diversas culturas podem incorporar os mesmos processos?

Contudo, de nada adianta que tudo isso seja pensado apenas pela Europa com sua cultura branca e eurocêntrica. Não tenho dúvida de o que será produzido por lá, na Nova Bauhaus, serão metodologias de grande riqueza estética e funcional. Mas será que servirá para o mundo inteiro?

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Descolonizar o olhar

Na época da Bauhaus de Walter Gropius, praticamente não se existiam escolas de design no mundo e o acesso à informação e cultura era escasso e pequeno.

Não era de se espantar que escolas do mundo inteiro, principalmente depois da Segunda Guerra, quando professores como Mies Van Der Rohe fugiram da Europa exilados para outros países, adotassem as metodologias inovadoras da escola.

Hoje vivemos outro tempo.

São inúmeras as escolas de design na América Latina, Ásia e África produzindo conteúdos de grande riqueza estética ao focar o seus olhares nas culturas ancestrais por tanto tempo apagadas pelos colonizadores. Será que esse olhar não tem que ser levado em conta numa nova escola?

Por que civilizações coloniais não podem criar suas próprias Bauhaus descolonizado o olhar da visão européia abraçando diálogos com povos negros, indígenas e de comunidades periféricas? Por que não olhar para nossas florestas, nossas sementes, nossas cores como referenciais?

Será que mais uma vez adotaremos a visão do lado de lá num mundo onde já podemos construir os nossos próprio olhares?