Carreira

Precisamos falar sobre a cultura dos softwares para arquitetos

10 de junho de 2022

Semana passada estava conversando com uma amiga que trabalha num grande Home Center como arquiteta. Ela falava que todas as novas vagas que a empresa abria exigiam BIM e Revit dos candidatos, mesmo a empresa não trabalhando com esses programas, apenas porque a direção achava que isso era o “futuro”.

Resultado: ela disse que uma leva de jovens extremamente habilitados nos mais modernos softwares chegavam para trabalhar, porém extremamente deficientes em conteúdo, referências, pesquisa criativa, escrita e inteligência emocional. Pessoas que conseguem pilotar um avião, se fosse preciso, mas que não conseguem resolver problemas complexos de forma criativa e fora da caixa.

Softwares predominam nas vagas

Dando uma olhada nas vagas para arquitetos no Linkedin, as exigências não são diferentes: BIM, Revit e todos esses novos programas que prometem transformar a complexidade de um projeto num brinquedo de criança. Claro que talvez essas vagas de fato necessitem desses programas e que eles são parte da cultura da empresa.

Mas e se essas exigências são apenas uma maquiagem para uma ideia de futuro pautado em softwares e tecnologia digital como no caso do Home Center da minha amiga? Uma avaliação dos candidatos pelo quanto eles conseguem renderizar uma perspectiva?

Eu me pergunto que ideia é essa de futuro que essas empresas enxergam? Quando a prioridade saiu das pessoas, dos seres humanos, da valorização do autoconhecimento para um software?

E como ficam as gerações antigas de arquitetos quando as novas vagas só priorizam esse tipo de conhecimento (já que a formação deles não foi pautada nessa cultura de software).Eles são descartáveis?

Não que os programas não sejam importantes para os arquitetos. Mas eles não são as únicos habilidades que devemos nos preocupar, já que a manipulação de arquivos será uma das capacidades que a máquina vai conseguir desenvolver em pouco tempo, então daqui há algum tempo talvez nem seja importante mesmo.

Será mesmo o futuro?

 

Quando eu ensinava na graduação, lembro dos alunos que estavam se formando me falarem que o primeiro passo após a colação de grau era correr atrás de mais cursos e cursos de todos os softwares possíveis do mercado.

Eles estavam atrás das exigências do mercado para conseguir uma vaga de emprego, no fundo não estavam errados, só queriam trabalhar. Mas eu tinha dó de pensar em meninos tão talentosos desperdiçando tantas outras habilidades incríveis em ficarem presos num programa.

Inclusive um dos motivos para que eu criasse o Tabulla foi esse, não suportava a ideia de que todo mundo só falava em software e sentia uma falta imensa de leituras e cursos voltados para uma ideia de um futuro mais humano, que vão além de um programa digital.

Eu não sei até onde isso vai, mas continuarei com o Tabulla por aqui, nadando contra a corrente remando contra a maré, criando meus cursos e guias procurando abrir os olhos das pessoas para outros mundos, acredito eu, mais importantes no momento que a gente vive no planeta do que a preocupação em dominar um programa.