É comum quando nós profissionais vamos começar um projeto de uma casa ou apartamento sempre pedirmos aos clientes referências de imagens, cores, materiais entre outras coisas que eles gostam para dar início à reforma. Precisamos de referências para saber que rumo tomar e planejar o espaço da maneira que fique mais agradável para você. Quando um profissional apresenta um desenho, ele estudou bastante a sua personalidade e os seus gostos para mostrar algo que se encaixe dentro do seu perfil. E aí você se pergunta, a minha casa deve ser do meu jeito ou do jeito que me falaram pra ser?
Caso você não tenha gostado, o profissional vai fazer de tudo para melhorar até chegar num desenho que seja exatamente o que você quer. E por que insistimos tanto em soluções que muitas vezes os clientes ficam com o pé atrás? É disso que resolvi falar hoje nesse post! Do tal dilema cliente x arquiteto/designer até se chegar no projeto perfeito e porque muitos clientes não entendem a posição do seu contratado em alguns casos.
” Não sei porque as pessoas contratam arquitetos e depois dizem a eles o que fazer”
Frank Ghery
Quando o profissional está executando um projeto ele está pensando exclusivamente no que você pediu para ele resolver, no problema chave que você quer melhorar na sua casa ou no seu espaço comercial. Claro, sem sombra de dúvida, o perfil de projeto ou de estilo do profissional vai estar embutido ali naquele projeto! Todo profissional tem uma linha de estilo que faz parte da sua personalidade e que costuma seguir: tem gente que é mais clássica, outros mais pop, outros mais descolados e por aí vai.
Por isso todo cliente quando procurar um profissional deve olhar o seu portfólio (geralmente no site) para entender um pouco a linha de pensamento da pessoa que está contratando! Então não adianta pedir um projeto high-tech para alguém que você sabe que tem uma pegada sustentável. Essa é a primeira dica para não se estressar com o seu arquiteto/designer.
A segunda dica é respeitar o seu profissional! Se ele insiste numa ideia é porque provavelmente aquela mistura de cores que você quer, aquele material que você deseja ou aquela cadeira giga na sua sala não vai ficar bom na planta do seu apartamento ou misturado com outros elementos da casa! Estudamos bastante exatamente para isso, para te alertar de tudo que não vai ficar bom dentro do seu perfil. E é aí que eu vejo muito problema: os clientes duvidam dessas orientações e até dispensam as dicas! Por que você contratou alguém para te orientar, assinou um contrato, viu o portfólio daquela pessoa, paga caro e não segue os conselhos apontados?
Nesse projeto nosso o cliente não queria se desfazer dos sofás que ele já tinha e nem trocar o forro e queria também que o piso fosse cinza (apesar de termos aconselhado um mais claro), pra minimizar o excesso da cor trabalhamos então com tons brancos para clarear e amadeirados para aquecer.
Óbvio que existem muitos casos da relação cliente x profissional ficar abalada, você não se identificar com quem contratou, isso é super normal! Acontece todo dia com todo tipo de serviço na face da terra. Mas se você confia naquela pessoa por que a recusa?
A terceira dica é só assinar um contrato se você realmente sentir confiança no profissional! Converse com ele, veja como ele trabalha, visite o escritório, conheça a equipe, crie confiança! Essa pessoa vai entrar no seu lar ou escritório e projetar o lugar que você morar ou trabalha todo santo dia… então seja amigo do seu profissional! Tire todas as dúvidas dele, não esconda informações e seja sincero! Não minta! Já vi vários projetos darem problema porque o cliente mentiu ou omitiu informações valiossíssimas para o projeto porque achava que podia resolver aquilo sozinho.
Outro ponto bem polêmico nos projetos de arquitetura e interiores é o conceito de feio x belo e a questão do gosto. Esse assunto tão abordado por vários autores importantes da história da arte, desde Kant e Platão até Umberto Eco e Ariano Suassuna é realmente super complicado. Kant afiram que belo é “aquilo que agrada universalmente, ainda que não se possa justificá-lo intelectualmente”, é a tal da questão do “gosto que não se discute”. O que é belo para mim que estudei 300 cadeiras de estética, desenho e história da arte é diferente do que é belo para você que nunca teve uma aula de pintura na vida e de jeito nenhum isso significa que o meu belo é melhor que o seu belo.Até porque existe sim beleza no feio!
Ops, tá começando a ficar complexo e filosófico? Hahahaha! Mas é isso mesmo! Essa coisa de que feio e bonito está nos olhos de quem vê! Nós podemos projetar um apartamento com todos os melhores acabamentos do mercado, dentro das últimas tendências e muita gente achar horroroso porque entra aí a questão do gosto, da bagagem cultural (que nada tem a ver com estudo, hein! Já vi muito médico com phd que viajava na maionese em se tratando de estética) e a questão de que nem sempre beleza está associado ao que é caro.
Aqui a cliente não queria se desfazer de jeito nenhum da cadeira de balanço super antiga que pertenceu à mãe dela, apesar de acharmos que uma cadeira mais moderna ficaria mais interessante. Mas o valor emocional do produto conta muito mais! Então fizemos um layout de varanda que integrou a cadeira às novas peças e não perdeu o contexto do espaço.
Porém é claro existem duas coisas chamadas harmonia e composição! Esse é o ponto que eu quero chegar nesse post! Quando o seu arquiteto/designer diz para você que algo não vai ficar bom e você insiste na ideia, não é porque ele achou feio (porque ele realmente pode ter achado mas ele não te diz isso) é porque algo que deixa de ser harmônico e sai de uma composição pensada dentro de um contexto pode te prejudicar muito! É uma cor forte que numa parede que vai te fazer se sentir cansado durante o dia, é uma poltrona pesada que vai pesar no contexto do apartamento quando colocada junto a outros móveis, é um papel de parede coloridão atrás de uma TV que vai te dar vertigem! E é pra isso que a gente estuda tanta estética!
Claro que há padrões de beleza que são unânimes e seguidos por uma penca de profissionais que estudaram pra isso, mas acima de tudo, deve-se respeitar a bagagem cultural que você tem adaptando isso às harmonias e composições que vão fazer tua vida melhor! Já cansei de ver cliente que insistiu numa ideia louca que ele viu numa revista e queria de todo jeito aquele no apartamento dele (por mais que eu dissesse que não ia ornar) e depois ele chegou pra mim pra falar que se arrependeu e que eu tinta total razão!
Então essa é a quarta dica! Tente estudar um pouco sobre harmonia e composição! Quando você fica doente, a primeira coisa não é entrar no google e digitar no nome da doença que saiu lá no exame para saber o que está acontecendo com o teu corpo? A mesma coisa você deve fazer com sua casa! Pesquisa, tente entender, veja revistas, vá a exposições de arte, observe os ambiente a sua volta. Isso vai fazer com que tudo flua muito melhor!
A sua casa é resultado do seu jeito mais o que planejaram pra você pensando em VOCÊ!!!!!!
Inclusive já tinha feito um post bem interessante sobre obras e reformas que tem um pouco a ver com o que falamos aqui nesse link.
Aqui embaixo coloquei alguns livros legais que falam sobre estética, beleza e composição e que valem muito a pena serem lidos!
FEITOSA, Charles. “Alteridade na Estética: reflexões sobre a feiúra”. In: Beleza, Feiúra e Psicanálise (Org. Chaim Katz). Rio de Janeiro: Ed. Contra Capa, 2004
ECO, Umberto. História da Beleza. São Paulo: Editora Record, 2012.
ARANHA, Maria Lucia de Arruda, e MARTINS, Maria Helena Pires. Filosofando: Introdução à Filosofia.
SUASSUNA, Ariano. Iniciação à Estética. São Paulo: Jose Olympio, 2010.