Precisamos falar sobre estética da alegria. Quem viu meu stories essa semana no instagram (@salapopstudio) já sabe do que estou falando. Vim conversar sobre o vídeo incrível do TED da designer Ingrid Fetell Lee sobre Cores e Alegria.
Ingrid tem uma pesquisa que diz que a felicidade pode ser conquistada através da estética e que as cores e as formas dos ambientes que vivemos tem um grande poder nisso. Ela mostra que quando somos crianças somos extremamente atraídos por sorvetes, arco-íris, unicórnios, entre outros elementos super coloridos, e questiona o porquê de quando crescemos esquecermos tudo isso, apesar de ainda nos trazerem felicidade. Na vida adulta usar cores no dia-a-dia virou coisa de gente boba e imatura.
Se as cores afetam nossa felicidade e nossa capacidade de sermos produtivos e eficientes, porque enviamos nossas crianças para estudar em ambientes assim? Principalmente nas escolas de ensino primário e médio! Por que que cor é algo que só pode ser usado no jardim-da-infância?
Ou mandamos nossos doentes (atenção, nossos doentes, que precisam se CURAR) para ambientes assim? Clínica, hospitais, postos de saúde…todos assim no mundo inteiro!
E até mesmo vamos trabalhar em ambientes assim? Como vamos desenvolver criatividade e produtividade num ambiente desses? Alguém já entrou na vida numa repartição pública (que geralmente sempre são assim ou até piores) e notou como as pessoas estão sempre de mau humor e tentando escapar do trabalho? Uma época da minha vida trabalhei num órgão público e nunca vi um ambiente com tanta gente amarga que fingia que trabalhava e procrastinava até a hora de largar.
Ingrid ainda cita vários exemplos como habitações populares e cidades (cheias de ferro, concreto e asfalto), entre outros! Fiquei super impactada com esse vídeo e quem me acompanha aqui faz um tempo sabe como pra mim as cores são ferramentas importantíssimas de trabalho. Tanto que já fiz outro post sobre isso aqui.
Não consigo trabalhar com ambientes “neutros” cheios de tons bege, branco, vidro, porcelanato. Quem me procura já sabe como é meu estilo e hoje, graças a Deus, eu posso até recusar quando vejo que um cliente é atraído por esse tipo de coisa. Não acho errado, cada um tem seu gosto, suas particularidades, ok? Só não funciona comigo e como vocês podem ver no vídeo, na verdade, não funciona com quase ninguém.
Ingrid cita projeto incríveis como o da Publicolor, ONG que reabilita arquitetura de escolas através do trabalho com cores. No site deles tem vários exemplos de como pequenas intervenções de cores diminuíram a violência escolar e aumentaram a frequência dos alunos.
Claro que esse trabalho não é feito de qualquer jeito, não é sair jogando roxo no texto, amarelo na parede de qualquer jeito. Tem um baita estudo da geometria do lugar, luz natural e artificial, círculo cromático, matiz e saturação das cores combinadas… Por isso que cor é algo que precisa ser muito estudado sempre!
Antes e Depois de um trabalho da Publicolor aplicado na Escola Claremont em South Bronx, NY.
Ela também fala do trabalho de uma arquiteta francesa, que hoje mora no Japão, chamada Emanuelle Moreaux. Eu já tinha visto um projeto de Emanuelle na primeira vez que fui à NY e entrei na loja fast-fashion Uniqlo. Fiquei impactada com o estudo de retail design e visual merchandising baseado em cores. Descobri com a Ingrid que esse projeto é de ninguém menos que Emanuelle que trabalha com um conceito que ela chama de “Shikiri” e que consiste em trabalhar as cores através de camadas de observação.
O trabalho dela é muiiiiito impressionante e não tem como se sentir triste vendo essas imagens. E vale salientar que não é nada poluído, exagerado e muito menos infantil…é um excelente estudo do poder do círculo cromático.
Fachada e interiores de Emanuelle Moreaux trabalhando o conceito das cores em camadas.
E aí, fica a pergunta, por que vivemos num mundo bege? Por que é crime usar cor quando somos adultos? Por que esquecemos nossa essência de criança e nos voltamos para um mundo onde sabemos que podemos encontrar alegria na estética, mas decidimos optar pela estética da tristeza?
Fica aqui essa reflexão.