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Estética Kitsch na Arquitetura Andina

5 de abril de 2017

Arquitetura Kitsch e Identidade Cultural das classes em ascensão é um assunto que muito me intriga, não à toa, falei bastante sobre isso na minha dissertação de mestrado que tratava dos interiores da classe C brasileira, disponível aqui para quem se interessar.

Há algum tempo ouvi falar de Fred Mamany  e fiquei encantada com o trabalho dele e sua estética kitsch! Para quem nunca ouviu esse nome, Mamany é um ex-pedreiro de 45 anos de El Alto, bairro pobre da capital boliviana onde tem construído sua carreira, e que cursou engenharia técnica numa faculdade local já depois dos 30 anos.

Em 10 anos de carreira já construiu mais de 60 edifícios, um recorde para alguém que trabalha na área  há pouco tempo e o segredo é o seguinte: o estilo de Mamany conquistou em cheio o coração dos novos ricos bolivianos que com suas cores fortes, formas geométricas gritantes, molduras de gesso e luzes de leds chinesas em excesso virou um sinônimo de ostentação e status dentro da cultura boliviana.

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Segundo ele mesmo, esse estilo reflete a identidade indígena aymara, cultura  ainda existente na Bolívia, Chile e Peru; nas suas fachadas e interiores, ao trazer um pouco das formas e cores do artesanato andino para seus projetos. O próprio Mamany diz que sua arquitetura é um reflexo da cultura andina, algo nunca ensinado nas faculdades que só ensinam a “fazer edifícios brancos e repetitivos todos iguais vindos da Europa”.

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Bom, que o assunto é polêmico não há dúvida! As universidades afirmam que o trabalho de Mamany é um pastiche de uma estética retrofuturista exagerada e sem embasamento, apenas cópias com mudanças de cores e formas de edifícios com a mesma tipologia: térreo comercial, salão de baile no primeiro andar e apartamentos nos outros  4 pavimentos seguintes… já alguns estudiosos o idolatram como o criador de uma marca própria quase como Gaudí representou para Barcelona, um gênio incompreendido por não trabalhar com a estética da elite e um pioneiro do pós-modernismo.

gaudi arquitetura

Casa Batló de Antoni Gaudí

Quando olho o trabalho de Mamany me vem a cabeça dois nomes da arquitetura e do design: Michael Graves (1934-2015) e Ettore Sttossas (1917-2007). Um americano e outro austríaco-italiano, ambos críticos ferrenhos da arquitetura moderna e do menos é mais, sendo grandes expoentes do chamado kitsch na arquitetura e que hoje são considerados gênios pelo legado da produção que deixaram. Okitsch mistura aleatoriamente estilos que muitas vezes se encontram deturpados e em escala errada e nascem com a civilização do consumo em massa e da produção industrial e pode ser considerado uma das formas de conexão entre arquitetura erudita  e a vernácula.

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Escola projetada por Michael Graves

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Casa projetada por Ettore Sttossas

Eu vejo o trabalho de Mamany um pouco como vejo o trabalho de Sttossas, Graves e até de Gaudí: talvez não tão profundo como os três, mas com uma mensagem estética muito parecida… contudo  por que Mamany vem sendo tão criticado?

Acho que o motivo aqui é que esses  nomes acima foram crias  das melhores escolas de arquitetura do mundo localizadas na Europa e nos EUA. Já Mamany é um frutoo das classes menos favorecidas, o primeiro nome de um manifesto que veio diretamente de um país de terceiro mundo representando um grupo que não teve estudo acadêmico profundo e que é fruto da ascensão dos pobres ao conhecimento técnico.

Acho que ele é o primeiro de muitos nomes que ainda vão surgir por aí e que devemos sim ficar atentos a essa produção que, ao meu ver, ainda vai gerar muitos frutos estéticos riquíssimos que podem ser interessantes estudos de mercado, principalmente se tiverem o apoio justamente das universidades para que possam melhorar e progredir.

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Fontes:

http://www.archdaily.com.br/br/779807/freddy-mamani-e-o-surgimiento-de-uma-nova-arquitetura-andina-na-bolivia
http://elpaissemanal.elpais.com/documentos/freddy-mamani/
http://architizer.com/blog/freddy-mamani-silvestre/
https://www.theguardian.com/artanddesign/2014/nov/08/bolivia-new-andean-architecture-freddy-mamani-el-alto
http://www.wallpaper.com/architecture/peter-granser-freddy-mamani-silvestre-edition-taube-book
http://www.newyorker.com/magazine/2015/12/21/high-aspirations

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