Cromofobia: Você tem medo de usar as cores?

“A cor é uma espécie de felicidade”, escreveu Roland Barthes. E é verdade que os humanos não mediram esforços para apreciar a cor. Ao longo da história, as pessoas fizeram longas (e às vezes até perigosas) buscas para obter os pigmentos mais brilhantes e diferentes.

Nosso amor pelas cores pode ser atribuído à evolução do nosso sistema visual. Na época em que nossos ancestrais primatas passaram de noturnos para diurnos, eles ganharam um tipo extra de célula com detecção de cores em suas retinas. Isto permitiu-lhes encontrar frutos vermelhos maduros e folhas jovens no verde da copa das árvores. Embora as cores brilhantes nem sempre sinalizem nutrição na vida moderna, a nossa atração por elas traz traços desta equação primordial. Cor é energia ou, como disse  o teórico da cor Johannes Itten: “Cor é vida, pois um mundo sem ela nos parece morto”.

Por que então tememos tantas vezes as cores na vida moderna?

 

O que é cromofobia?

A cromofobia, também conhecida como cromatofobia, pode ser uma síndrome clínica debilitante em que as pessoas sentem medo intenso ou têm ataques de pânico com cores específicas. Terapias como a terapia cognitivo-comportamental (TCC) podem ser úteis no tratamento da cromofobia e na mitigação do medo irracional das cores.

Mas vamos nos ater ao tipo cotidiano da cromofobia: o medo da cor que não faz você suar frio, mas impede que você expresse plenamente sua criatividade.

Segundo a estudiosa das cores Ingrid Fetell Lee, existem três tipos de cromofobia mais comuns:

 

 

Medo de errar

Existe uma percepção comum de que existe uma maneira certa e uma maneira errada de usar cores. Muitas pessoas temem escolher cores que sejam de alguma forma “erradas”. Nos preocupamos em escolher cores que conflitam ou que sejam desatualizadas. Ou nos preocupamos em entrar em conflito com alguma regra não escrita sobre como as cores “deveriam” ser.

Uma razão para esse medo é que as pessoas foram condicionadas a pensar que a cor é uma habilidade especial na qual apenas algumas pessoas são “boas”. É notável que as crianças raramente temem as cores, apenas desenvolvendo cromofobia à medida que envelhecem e se tornam mais sensíveis às opiniões dos outros.

A verdade é que ninguém está condenado a ser “ruim nas cores”. Qualquer pessoa pode criar combinações de cores lindas e harmoniosas com um pouco de treinamento. Mas como a maioria das escolas não ensina cores básicas como parte do currículo, as pessoas não têm as ferramentas para se sentirem confiantes na escolha das cores.

 

Medo de se cansar 

Com tantas postagens sobre a “cor do ano” circulando nas redes sociais, não é surpreendente que muitos de nós acreditemos que as cores entram e saem como a moda. Tememos que o azul que escolhemos para nossos armários acabe parecendo desatualizadas em apenas alguns anos.

Na realidade, porém, o que importa mais do que tendências é encontrar cores que você realmente ama. Quando você ama uma cor, é improvável que você se canse dela. Todo o nosso medo em relação à escolha das cores cria tanta ansiedade que é difícil saber com quais cores realmente nos conectamos. Abandonar o medo costuma ser o primeiro passo para encontrar cores que pareçam atemporais para você.

 

Medo de ser cafona ou exagerado

Algumas pessoas são atraídas pelas cores, mas temem que outros as julguem pela maneira como usam as cores. Tal como o artista David Batchelor descreve no seu livro “Cromophobia”, este medo pode estar enraizado num preconceito da cultura ocidental que vê a cor como uma expressão perigosa de emoção. Esta noção foi consolidada durante o período colonialista, quando a cor (juntamente com a dança vigorosa, o percussão, o canto expressivo e outras formas de arte) foi codificada como primitiva. Os colonizadores reprimiram as emoções como forma de se declararem superiores aos supostos “selvagens” que procuravam governar.

“Nações selvagens, crianças e pessoas sem educação tem uma predileção por cores vivas. Pessoas refinadas evitam cores vivas em suas roupas”.

Goethe em Teoria da Cores de 1810

Até hoje, o excesso de cor é frequentemente visto como infantil, pouco sofisticado e feminino. Portanto, não é de surpreender que tenhamos medo de escolher cores muito brilhantes ou de escolher combinações muito marcantes. Há um estigma de que se você usa muitas cores é bobo e não passa seriedade no trabalho.

Até Le Corbusier, pai da arquitetura moderna, associou o branco à limpeza e à espiritualidade, criticando duramente misturas mais ousadas na arquitetura. Isso validou toda a produção cromática dos edifícios modernos do século XX.

Esse medo muitas vezes leva ao medo de cometer um erro. Se soubéssemos como obter a “cor perfeita”, acreditamos que poderíamos evitar ser julgados como cafonas ou berrantes. Mas por não sabermos como fazer isso, acabamos nos sentindo presos.

 

Sintomas de Cromofobia

Como saber se você tem cromofobia ou simplesmente ama neutros?

Algumas pessoas realmente preferem estar cercadas por tons de branco, cinza e bege. Mas se for esse o caso, provavelmente você não terá um sentimento de conflito interno em torno da cor. A cromofobia é marcada por um sentimento de ambivalência – você adora cores, mas não se sente confiante em escolhê-las. Se você sente uma tensão que surge quando pensa em cores, provavelmente está sofrendo de cromofobia.

Aqui estão alguns sinais específicos de que você pode estar sofrendo de medo de cores:

• Você admira as roupas coloridas do seu amigo, mas simplesmente não acha que conseguiria usá-las.
• Você se sente sobrecarregado ou perdido ao entrar em uma loja de tintas.
• Sempre que você pensa em escolher algo colorido, você se lembra de um grande erro que cometeu e se retrai.
• Você adia a tomada de decisões envolvendo cores até o último momento possível.
• Você adora usar cores sempre que elas não “importam”, como usar uma fantasia de carnaval, mas evita cores em sua vida diária.
• Você adora cores, mas a maior parte do seu guarda-roupa e móveis são neutros.

Como superar o medo da cor

 

 

Terapia de Exposição

Se você se preocupa com o fato de a cor ser “demais”, experimente ir a um lugar colorido e veja como é passar um tempo lá. Você pode escolher um lobby de hotel vibrante ou um mercado colorido, ou até mesmo um lugar na natureza cheio de verdes ou azuis brilhantes. Quando estiver lá, anote as cores e combinações de cores que lhe parecem melhores. Observe também quando parece que há a quantidade certa de cor em um espaço. A proporção geralmente é mais importante do que a cor em si.

Pequenas Doses

Se você quiser trazer mais cor para sua vida, comece com pequenas doses, como algumas almofadas multicoloridas ou uma obra de arte colorida. Você também pode adicionar pequenas doses de cor ao seu guarda-roupa através de acessórios como lenços, óculos de sol ou sapatos. À medida que você se acostuma com esses pequenos toques de cor, você pode querer mais.

Não compre por impulso

Às vezes ficamos tão frustrados com nosso medo das cores que simplesmente saímos e compramos algo colorido por impulso. Aí acabamos não gostando, o que reafirma o medo e nos impede de escolher novamente a cor. Quando você estiver tentado a comprar algo colorido, pergunte-se o seguinte: Essa é uma cor com a qual me identifiquei no passado? Essa cor tem algum significado pessoal para mim?

Se a resposta for não, faça uma pausa antes de clicar no botão comprar. Um interesse repentino por uma nova cor costuma ser um indício de que você está sendo tentado por uma tendência de cores. Esperar até que a pressa passe pode ajudá-lo a ter certeza de que esta é uma cor que você vai adorar no longo prazo.

 

Cor de Assinatura

Uma cor exclusiva é uma cor que representa você. Talvez seja sua cor favorita ou uma cor que você costuma usar. Ter uma cor exclusiva permite que você adicione cor ao seu guarda-roupa e à sua casa sem se preocupar se vai parecer maluco ou demais. Como você está adicionando apenas uma cor, é difícil exagerar.

À medida que você se sentir confortável com sua cor exclusiva, começará a notar quais cores combinam bem com ela e quais combinações de cores você não gosta tanto. Ao decidir começar a adicionar mais cores à mistura, você se sentirá muito mais confiante nessas escolhas.

Testes de Cores

Você deve sempre testar as cores antes de fazer uma grande compra. Não confie em pequenas amostras de tinta. Pegue uma amostra na loja e pinte-a em uma placa de pelo menos trinta centímetros quadrados antes de fazer uma escolha.

Um grande erro que muitas pessoas cometem ao testar cores é olhar para elas no plano errado. Se você estiver pintando uma cor em uma parede, certifique-se de olhar para o quadro de teste verticalmente, e não horizontalmente sobre uma mesa ou no chão. Isso ocorre porque as cores colocadas horizontalmente refletirão mais luz e parecerão mais claras do que as cores da parede.

Também é importante levar em conta o acabamento. Se você estiver usando tinta de alto brilho, a tinta refletirá mais luz e parecerá mais clara do que se você usar um acabamento fosco. Tente testar em condições o mais realistas possível e você ficará mais feliz com suas escolhas. Isso aumentará a confiança em suas habilidades com as cores e diminuirá o medo.

Estratégia de Cores

Quando a cor parece opressora, sempre ajuda simplificar. Uma maneira de fazer isso é escolhendo uma estratégia de cores que  é uma escolha intencional sobre onde colocar cor em seu espaço. Na estratégia de fundo, você coloca cor nas paredes e grandes superfícies, e deixa seus móveis mais neutros. Na estratégia de primeiro plano, você usa principalmente paredes brancas e adiciona toques de cor por meio de móveis, arte e objetos.

Escolher uma estratégia de cores é uma maneira simples, mas poderosa, de garantir que você não exagere nas cores da sua casa.