Vivemos a era da influência, do marketing, da comunicação, do mostrar o que faz, do vídeo, da foto, da imagem, da divulgação. Se Chacrinha já dizia nos anos 80 que quem não se comunica se trumbica, hoje em 2023, quem não se comunica então nem sequer existe?
Tiktok, Instagram, Youtube, Linkedin transformaram completamente a forma como projetos e a própria imagem pessoal e profissional de arquitetos e designers é construída para seus clientes.
Nomes famosos como Maurício Arruda e Patrícia Pomerantzeff, da Doma Arquitetura, cresceram e se tornaram celebridades do ramo por conta de suas habilidades poderosas de comunicação.
Patrícia começou criando sozinha vídeos e fotos com sua câmera GoPro e redefiniu o diálogo dos espaços para as pessoas. Hoje ela já tem uma equipe própria que a acompanha em seus trabalhos.

Patrícia Pomerantzeff, da Doma Arquitetura – Foto: Mariana Orsi
Ela jamais se tornaria tão famosa a se não tivesse usado suas habilidades de fotógrafa, contadora de histórias e editora de vídeo para conversar com a sua audiência nas redes sociais.
Claro que tanto Patrícia quanto Maurício são excelentes profissionais no que fazem, mas quantos excelentes profissionais iguais a eles não estão conseguindo o mesmo destaque por não saberem se comunicar?
No Passado
Durante muitos anos a comunicação de arquitetura ficou restrita a um âmbito muito pequeno. Parte era voltada para profissionais da área e parte para donas-de-casa como entretenimento em suas horas de lazer. Nos anos 70 a 90, revista como CasaVogue, Casa Claudia e Casa & Jardim dominavam as bancas com a nata do mais chique da produção de obras focado na riqueza e no luxo.
Nos anos 90 revistas como AU e Projeto começaram criar conteúdos mais profundos sobre a área e voltado exclusivamente para profissionais com estudos de caso, textos críticos e novidades tecnológicas – incluindo projetos de habitação popular, mas com um perfil muito técnico.
Nessa época a profissão de crítico de arquitetura era comum, formado por jornalistas ou arquitetos que analisavam projetos com opiniões e embasamentos. A grande massa era praticamente excluída da informação de arquitetura.
Nos idos dos anos 2000, revistas de conteúdo rápido começaram a documentar pequenas reformas e se aproximar de uma comunicação voltada para o grande público com soluções simples, educando sobre a importância do lar e da qualidade de vida através do espaço.
Esses conteúdos começaram a se sustentar principalmente com patrocínios das grandes marcas da indústria, o que ocasionou perfis muito publicitários, perdendo a liberdade do senso crítico.Com as redes sociais e a disseminação rápida da informação, muitos desses veículos começaram a sumir. Programas do Youtube começaram a dominar a comunicação da área, muitos desses conteúdos criados pelos próprios profissionais e seus escritórios documentando suas obras.

Capa da Revista Casa Claudia, famosa nos anos 90/2000 – Fonte: Editora Abril
Hoje não existe arquitetura sem comunicação. O público quer se informar. Um profissional ou escritório tem sentido na pele a necessidade de transformar um projeto numa narrativa (falamos sobre isso no nosso Guia Nichos do Futuro com a profissão de Comunicador de Espaços).
Além disso, o crescimento de programas de decoração como o Decora e o Mais Cor, Por Favor da GNT e o É de Casa da Globo tem aberto os olhos das pessoas para querer entender todos os processos embutidos por trás da criação de um projeto.
Hoje também é normal vermos influenciadores mostrando o dia-a-dia dos seus cuidados com a casa e suas reformas documentadas passo-a-passo em parceria com marcas e grandes nomes da construção civil.
Novos Mercados
Provavelmente a comunicação dos projetos só tende a crescer nos próximos anos e vai ser inerente a qualquer profissional e escritório ter uma equipe contratada para criar sua comunicação e sua narrativa nas redes sociais, pois isso tudo criou uma proporção tão grande que é impossível que os profissionais deem conta sozinhos.
Diversos arquitetos estão se formando e depois migrando para a área de foto e vídeo, já que esse nicho está crescendo vertiginosamente e mesmo que um fotógrafo sem formação de arquitetura consiga fazer esse trabalho, é mais difícil que sem os conhecimentos espaciais necessários ele consiga os mesmos resultados.
Se no passado ser filho ou amigo de alguém influente (isso ainda ajuda bastante hoje) era uma abertura de portas quase essencial para formar uma cartela de clientes ou contar com a sorte (ou a verba) pra ter um projeto publicado numa revista impressa; as redes sociais facilitaram esse processo para uma grande parcela de pessoas que eram excluídas do elitista mercado da arquitetura, do design e da construção civil de outrora.
Mas e quem não sabe ou não gosta de se comunicar e também nem é filho ou amigo de pessoas influentes?
E quem não sabe?
Conversando com um amigo que é um excelente arquiteto, mas que detesta aparecer em redes sociais e se considera um péssimo comunicador, nos questionamos como o futuro do trabalho do arquiteto/designer pode ser cruel para quem nasceu apenas para projetar e criar e tem aversão à internet.
Ou até mesmo como a nova forma de divulgar projetos criou mais uma demanda de trabalho e de recursos nos profissionais que hoje além de dar conta de escritório, obra, projeto, clientes ainda precisam lembrar de fazer vídeos legais e manjar de aplicativos de edição. Ou de ter que separar uma verba (da já tão sofrida verba do mês) para contratar uma pessoa para fazer isso para você.
Será que existem outros caminhos para ser uma referência no mercado ou construir uma carreira sólida que vão além de saber se comunicar?
E como fica a comunicação que é feita fora dos escritórios pelos grandes veículos, editores, críticos? Como eles podem se reinventar no meio de tantas mudanças digitais?