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Marie Kondo e o Minimalismo como negócio

2 de maio de 2020

É difícil que você não saiba quem seja Marie Kondo. A japonesa que ficou famosa por criar um método de organização que se espalhou pelo mundo chamado KonMari, escreveu um livro best-seller intitulado “A mágica da arrumação” e ganhou até um programa na Netflix, é quase onipresente.

Kondo, que começou organizando casas no Japão a partir de um método criado por ela mesma onde pregava que você jogasse fora aquilo que não te desse alegria, continua crescendo meteoricamente.

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Depois do sucesso do seu livro e da sua série, Marie Kondo já lançou mais alguns outros projetos:

  • Mais dois livros (um deles ensinando organização para crianças),
  • Um método de ensino que capacitou cerca de 400 consultores treinados para kondorizar profissionalmente,
  • Uma parceria para vender produtos de organização com a gigante japonesa Rakutten,
  • Um segundo programa no Netflix intitulado “Sparkling Joy with Marie Kondo” (onde ela vai kondorizar uma pequena cidade americana),
  • Um jogo/videogame que vai ensinar crianças a organizar seus brinquedos.

O sucesso de Marie Kondo caminha junto com a ascensão meteórica do Minimalismo, movimento que teve origem de movimentos artísticos do século 20 (como o Dadaísmo) que seguiam como preceito o uso de poucos elementos visuais e isso acabou migrando também para o social.

O minimalismo, enquanto expressão social, é um reflexo também de movimentos de contracultura como o punk e o hippie, que questionaram a sociedade de consumo e seus excessos.

O movimento não é anti-capitalista, mas sim crítico do capitalismo selvagem ancorado na ostentação e no desperdício. Em tempos de quarentena, com o poder de consumo reduzido e a sociedade começando a se fazer questionamentos acerca da posse e da aquisição de coisas, não espanta que Kondo venha a fazer ainda mais sucesso.

Mas o mais interessante é que Kondo tem dado luz com o seu discurso ao nascimento de negócios, produtos, pesquisas e serviços espelhados na base do desapego e da organização.

É como se ela houvesse realmente criado um estilo estético/cultural/social que vem transformando modos de vida, de trabalho e de morar mundo afora.

Vamos analisar algumas iniciativas surgidas pós-Kondo:

Renova tu vestidor

O Renova tu vestidor é uma empresa argentina especializada em vendas de roupas usadas de pessoas que aplicaram a kondorização. Parecido com o brasileiro Enjoei , mas focado apenas no mercado de moda e closets feminino

O interessante é que depois que o programa de Marie Kondo estreou no Netflix em 2019, o Renova aumentou suas vendas em 200% e recebeu o dobro de produtos do ano anterior (2018).

The Gentle Art of Swedish Death Cleaning

O best-seller do NYTimes “The Gentle Art of Swedish Death Cleaning: How to Free Yourself and Your Family from a Lifetime of Clutter” ou A gentil arte da limpeza Sueca, é um livro escrita pela artista
Margareta Magnusson e claramente inspirado no método Kon Mari.

O livro se baseia no discurso escandinavo do Hygge, o estilo que prega a simplicidade e o conforto e é comum em países como Finlândia, Noruega, Dinamarca e Islândia que são considerados os primeiros na lista de lugares mais felizes do mundo segundo a ONU.

The Dark Side of Home

O lado escuro da casa ou “The dark side of home: Assessing possession ‘clutter’ on subjective well-being” é uma pesquisa publicada por professores da DePaul University no Journal of Enviromental Psychology sobre como a organização do lar influencia na satisfação e felicidade da família que o habita.

Sim, o discurso de Marie Kondo de fato tem sentido e é comprovado em gráficos e números pelos pesquisadores, mostrando o poder da kondorização.

MeantSimply

A Meant é uma linha de cosméticos naturais e orgânicos criada a partir do discurso minimalista do auto-cuidado e do menos é mais.

São produtos de banho, limpeza e skincare com embalagens enxutíssimas e criados com a intenção que as pessoas comprem cada vez menos, por isso seus produtos são “2 em 1” ou “3 em1”, ou seja, são multifuncionais e evitam desperdícios desnecessários.

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O que podemos concluir é que Kondo realmente merece a atenção que vem recebendo. Ela não teria esse sucesso se não fosse uma observadora nata dos movimentos da sociedade e das transformações e tendências de viver, trabalhar e morar (não à toa, ela é formada em Sociologia).

Consigo imaginar muitas outras iniciativas que podem nascer do, vamos chamar de, Estilo Kondo, e arrisco a dizer ainda que há nisso muito pano pra manga.

Você consegue enxergar alguma ideia de business dentro desse modelo? Em tempos de forte transformação social como a que estamos vivendo nesse início de 2020 com o Corona Vírus, como esse discurso pode nos beneficiar?

“Um objeto, mesmo que não tenha sido adquirido por meio de roubo, deve ser no entanto considerado furtado se o possuímos sem dele precisarmos.”

Gandhi