Recentemente terminei de ler o livro “Em casa: Uma breve história da vida doméstica” do escritor americano Bill Bryson e apesar de ter cursado a faculdade de arquitetura, nunca tinha estudado os detalhes da formação dos ambientes do período neolítico até os dias de hoje.
É impressionante pensar que na época de Skara Bae, construção de uma cidade neolítica encontrada na Escócia e que data de 5 mil anos atrás (uma das mais antigas formações urbanas do mundo ainda intacta), o homem já tinha a noção de que conviver coletivamente era necessário a sua sobrevivência e que a divisão das casas em ambientes, sistemas de drenagem, pavimentação, proteção contra o fio e noções mínimas de dimensionamento eram de extrema importância, mesmo que rudimentares.

Foi no período neolítico com o desenvolvimento da agricultura que as civilização começaram a se estabilizar em núcleos urbanos, já que com o plantio de alimentos, o nomadismo em função da caça de animais não era mais algo necessário. E foi nesse período que surgiram hábitos e tecnologias rudimentares que observamos em nossas vidas até hoje. Você sabia que os animais que temos o hábito de comer, não são exatamente os mais saborosos, mas os cultivamos porque foram escolhidos por nossos ancestrais por serem mais fáceis de serem domesticados?
Ainda assim, vivemos de forma rudimentar durante muitos séculos. Durante a época medieval e até 1500, praticamente não se existia mobiliário. A mesa de comer era uma tábua sobre cavaletes, as pessoas sentavam em bancos simples e a palavra “cadeira” só foi registrada em 1300.
As primeiras grandes inovações acerca do lar e da tecnologia de morar só ocorreram após as Grandes Navegações onde as comunicações entre os povos, as trocas de ideias e o intercâmbio de culturas, insumos e matéria-prima se tornou possível, principalmente os diálogos entre Inglaterra e EUA. Mas foi especificamente após a Revolução Industrial em 1750 que essa evolução aconteceu de verdade.
Invenções como a bomba de mercúrio criada pelo alemão Hermann Sprengel em 1850 e que deu origem futuramente à luz elétrica e o cimento hidraúlico, uma mistura de cimento romano com outro insumos, criado em 1825 pelo americano Canvass White ( e que garantiram a hegemonia de NY como capital do mundo possibilitando a construção do canal de Erie) revolucionando a construção civil tem menos de 200 anos. Se pararmos para pensar direitinho vivemos de modo confortável há muito pouco tempo.

A origem da classe média, termo registrado por volta de 1745 na Irlanda e que nominava comerciantes, banqueiros, editores, advogados e outras pessoas dotadas de espírito criativo; também injetou novos níveis de demanda na sociedade. Essas pessoas ansiavam e buscavam por inovação doméstica e decoração, além de objetos desejáveis para encher suas casas. De repente coisas como tapetes e espelhos que raramente podiam ser encontrados antes de 1750 se tornaram comuns.
É engraçado pensar em como, desde então, os avanços tecnológicos acerca do lar tem avançado na velocidade da luz, como se tivéssemos engatado a primeira marcha e não paramos mais de correr. Ao assistir à série Black Mirror fica evidente em como a Internet das Coisas já é uma realidade na nossa vida. No episódio White Christmas assistimos a história de um dispositivo que usa a consciência de uma pessoa para controlar uma casa, agindo como assistente pessoal.

Ainda não há algo que coloque a consciência de uma pessoa em uma tecnologia ou dispositivo, mas as assistentes pessoais virtuais existentes, como a Alexa, da Amazon, conseguem controlar alguns elementos da casa e, se você tiver muito dinheiro, casas inteligentes, a partir do desmembramento da internet das coisas, podem ser controladas automaticamente.
Cortinas programadas para abrir ou fechar em um determinado horário, ar-condicionado com sensores que alteram a temperatura de acordo com o clima ambiente ou todas as luzes da casa que se apagam com um simples toque no celular já são realidade. É o futuro sendo presente. Imagina o que os habitantes de Skara Bae iriam pensar?
“Eu nunca penso sobre o futuro, ele chega cedo demais”
Albert Einstein
PS: No caso das casas, demoramos 10 mil anos, né? 😉