Arquitetura

Como as epidemias transformaram nossas vidas?

21 de maio de 2020

As epidemias sempre existiram na história do mundo, por exemplo, a peste na Idade Média matava milhares de pessoas todos os dias.

Já a varíola matava cerca de 400 mil europeus por ano até o século XVIII quando foi descoberta a vacina, que na verdade era colocar o paciente em contato com leite de vacas contaminadas com um grau mais leve da doença (ideia do médico Edward Jenner) mas não se sabiam os motivos reais do porquê isso funcionava).

Ninguém tinha ideia de que essa doenças eram causadas por micro-organismos invisíveis e que a higiene era a melhor forma de combatê-las. Durante muito tempo as pessoas achavam que os banhos abriam os poros e eram portas para vapores mortais do além invadirem o corpo.

As epidemias de cólera

Em 1848 Londres presenciou uma grave epidemia de cólera e ninguém sabia os motivos da contaminação: as teorias iam do ar impuro ao demônio.

Foi quando um médico chamado John Snow teve a ideia de elaborar mapas detalhados das residências das vítimas e notou que um hospício que ficava num bairro com alto índice de contaminação não tinha nenhum doente.

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Mapa de Snow para estudar o cólera
Fonte: CDC

Depois de algumas entrevistas descobriu que lá o abastecimento d´água era próprio e não vinha das fontes do poluído Rio Tâmisa (que recebia todos os dejetos das fezes das casas londrinas), chegando a conclusão que a contaminação se dava pela água.

Entretanto ninguém lhe deu ouvidos e só depois de muita insistência o governo resolveu desativar as fontes de certos bairros do mapa de Snow.

Os sistemas de esgoto

Após outra epidemia forte do Cólera em 1858, o governo se convenceu de que Snow estava correto e que o sistema de esgoto e abastecimento d´água de Londres precisava ser reestudado e a água limpa não poderia ter contato com a água dos dejetos, pois isso poderia causar doenças graves.

Para isso contrataram o engenheiro Joseph Bazalgette para redesenhar toda a engenharia sanitária da cidade, criando um dos primeiros sistemas de esgotamento do mundo.

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Construção do esgoto de Londres por Bazalgette em meados de 1860
Fonte: The Guardian

Apenas em 1876 o médico alemão Robert Koch identificou o bacilo do cólera e a humanidade finalmente entendeu que micróbios matam  e que a higiene corporal era de extrema importância  para a não-proliferação de epidemias. Ou seja, há apenas 150 anos!

Banheiros e Saneamento Básico

Os primeiros banheiros completos com chuveiros, bacias e lavatórios só começaram a ser instalados no início do século XX em hóteis e custavam muito caro. A maioria das casas da classe burguesa chegavam a ter água encanada, mas não tinham um WC completo, pois não existiam bombas de pressão para levar a água para cima.

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Um típico banheiro de hotel em NY em meados de 1940
Fonte: Brownstoner

Quando os primeiros banheiros completos começaram a se proliferar em 1940 (com a criação da bomba e da cerâmica esmaltada que barateou os custos de produção) ninguém os decorava: eram espaços colocados onde fosse possível, em qualquer lugar da casa.

Os banheiros como os conhecemos são muito recentes na nossa história e infelizmente, ainda hoje,  1 a cada 3 pessoas no mundo não tem acesso à água (segundo a ONU).

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Como será que a epidemia atual do Corona Vírus transformará os espaços que vivemos, as maneiras como nos relacionamos, as nossas relações de higiene e de circulação? Já falamos de algumas possíveis tendências de maneira mais geral nesse post aqui.

Mas será que viveremos transformações radicais como foi o esgoto de Balzagette para Londres ou a criação de bacias sanitárias que independem de água para que mais pessoas tenham acesso à limpeza (como essa que Bill Gates vem desenvolvendo)? Ou até mesmo um novo sistema de tubulações já que o Corona Vírus pode ser transmitido também pela água e ar dos encanamentos de edifícios?

A Fast Company soltou um report sobre possíveis mudanças em banheiros nessa reportagem. Algumas teorias indicam:

  • o uso de materiais antissépticos e antibactericidas nos metais sanitários (como o cobre, por exemplo),
  • pias mais fundas para que a água não respingue no rosto do usuário,
  • mudança na tubulação já que as descargas costumam espalhar carga viral nos canos e proliferar para outros andares,
  • Mudança no tratamento de esgotos já que o vírus aparece nas fezes por até 30 dias mesmo após a cura.

Ainda precisaremos aguardar para ver como essas transformações se tornarão reais, mas sem dúvida viveremos uma época de grandes mudanças no que se refere à arquitetura de edificações e espaços públicos.